Rousseau: O bom selvagem

Rousseau: O Bom Selvagem
Luiz Roberto Salinas Fortes . Humanitas . 2007 . 2ª edição

Rousseauísmo no Brasil: Um Debate

Debate organizado pelos Cadernos de Ética e Filosofia Política e realizado em 14 de junho de 2006, com a participação dos professores Milton Meira do Nascimento (FFLCH-USP), Maria Constança Peres Pissarra (PUCSP), Maria de Fátima Simões Francisco (FE-USP) e Ricardo Monteagudo (UNESP-Marília).

Imagens

(Les Charmmettes, Chambéry, França; por Chris Bertram; Wikimedia.org)

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(Túmulo de Jean-Jacques Rousseau, no Panteão de Paris; Wikimedia.org)

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(Busto de J.-J. Rousseau, por Jean Antoine Houdon, Paris, 1828)

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(Retrato de Rousseau em trajes de armênio, por Ramsay)

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(Monumento de François Masson, no Museu do Louvre, em Paris)

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(Monumento de François Masson, no Museu do Louvre, em Paris)

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(J.-J. Rousseau por Jean Coteau; Museu Jean-Jacques Rousseau)

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(Placa de J.-J Rousseau, por Chris Bertram - em Domínio Público; Wikimedia.org)

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(Ilustração de "Júlia ou A Nova Heloísa" - Imagem em Domínio Público, retirada de Wikimedia.org)

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(Carta de Rousseau a Malesherbes, 1762; Museu Jean-Jacques Rousseau)

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Textos Selecionados

Discurso sobre as Ciências e as Artes

"O sábio de modo algum corre atrás da fortuna, mas não é insensível à glória; quando a vê tão mal distribuída, sua virtude, que um pouco de emulação teria animado e tornado proveitosa à sociedade, cai na indolência e se extingue na miséria e no esquecimento. Eis o que, com o correr do tempo e em todos os lugares, causa a preferência dos talentos agradáveis aos úteis e o que a experiência vem confirmando, à saciedade, desde o renascimento das ciências e das artes. Temos físicos, geômetras, químicos, astrônomos, poetas, músicos, pintores; não temos mais cidadãos ou, se nos restam alguns deles dispersos pelos nossos campos abandonados, lá perecem indigentes e desprezados. Esse o estado a que estão reduzidos, esses os sentimentos que encontram, em nós, aqueles que nos dão o pão e dão o leite a nossos filhos."

(Discurso sobre as Ciências e as Artes, Segunda Parte)


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Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens

"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém'"

"Pois é manifestamente contra a lei da natureza, seja qual for a maneira por que a definamos, uma criança mandar num velho, um imbecil conduzir um sábio, ou um punhado de pessoas regurgitar superfluidades enquanto à multidão faminta falta o necessário"

(Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Segunda Parte)


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Júlia ou A Nova Heloísa

"Queres saber qual delas é realmente desejável, a fortuna ou a virtude? pensa naquela que o coração prefere quando sua escolha é imparcial. Pensa aonde nos leva o interesse ao ler a história. Pensaste alguma vez em desejar os tesouros de Creso, ou a glória de César, ou o poder de Nero, ou os prazeres de Heliogábalo? Por que, se eram felizes, teus desejos não te punham no lugar deles? É que não o eram e tu o sentias bem, é que eram vis e desprezíveis e que um mau feliz não atrai a inveja de ninguém. Que homens contemplavas então com maior prazer? Dos quais adoravas os exemplos? A quais terias mais desejado assemelhar-te? Encanto inconcebível da beleza que não perece! era o Ateniense bebendo Cicuta, era Bruto morrendo por seu país, era Régulo em meio aos tormentos, era Catão despedaçando suas entranhas, eram todos esses virtuosos infelizes que te causavam inveja e sentias no fundo de teu corção a felicidade real que seus males aparentes recobriam. (...) Esse divino modelo que cada um de nós traz consigo encanta-nos apesar de tudo: logo que a paixão nos permite vê-lo, queremos nos assemelhar a ele e, se o pior dos homens pudesse ser outra pessoa, gostaria de ser um homem de bem."

(Júlia ou A Nova Heloísa, Segunda Parte)


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Emílio ou Da Educação

"Homens, sede humanos, este é o vosso primeiro dever; sede humanos para todas as condições, para todas as idades, para tudo o que não é alheio ao homem. Para vós, que sabedoria há fora da humanidade? Amai a infância; favorecei suas brincadeiras, seus prazeres, seu amável instinto. Quem de vós não teve alguma vez saudade dessa época em que o riso está sempre nos lábios, e a alma está sempre em paz? Por que quereis retirar desses pequenos inocentes o gozo de um tempo tão curto que se lhes foge, e de um bem tão precioso, de que não poderiam abusar? Por que quereis encher de amargura e de dores esses primeiros anos tão velozes, que não mais voltarão para eles, assim como não voltarão para vós? Não fabriqueis remorsos para vós mesmos retirando os poucos instantes que a natureza lhes dá. Assim que eles puderem sentir o prazer de existir, fazei com que o gozem; fazei com que, a qualquer hora que Deus os chamar, não morram sem ter saboreado a vida."

(Emílio ou Da Educação, Livro II)


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As Confissões

"quando frequentava a sociedade, sempre tinha que trazer no bolso um bilboquê e ficava jogando todo o tempo para dispensar-me de falar quando nada tinha a dizer. Se todos fizessem o mesmo, os homens seriam menos maus, seu trato seria mais seguro e, penso, mais agradável. Enfim que os engraçados riam se quiserem, mas sustento que a única moral à altura do século presente é a moral do bilboquê."

(As Confissões, Livro V)


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Os devaneios do caminhante solitário

"Tudo na terra está em um fluxo contínuo: nada mantém uma forma constante e fixa, e nossas afeições, que se apegam às coisas externas, necessariamente passam e mudam como elas. Sempre à frente ou atrás de nós, elas lembram o passado que não é mais ou prevêem o futuro que muitas vezes não deve acontecer: não existe nada sólido a que o coração possa se apegar. Assim, neste mundo só conhecemos o prazer que passa; a felicidade que dura, duvido que seja conhecida. Mal existe, em nossos mais vivos prazeres, um instante em que o coração possa de fato dizer: 'Eu gostaria que esse instante durasse para sempre'. E como chamar de felicidade um estado fugidio que nos deixa o coração inquieto e vazio, que nos faz sentir falta de algo antes ou desejar ainda algo depois?"

(Os devaneios do caminhante solitário, Quinta caminhada)

"A felicidade é um estado permanente que não parece feito para o homem neste mundo. Tudo na terra está em um fluxo contínuo que não permite a nada assumir uma forma constante. Tudo muda à nossa volta. Nós mesmos mudamos, e ninguém pode garantir que amará amanhã aquilo que ama hoje. Assim, todos os nossos projetos de felicidade nessa vida são ilusões. Aproveitemos o contentamento do espírito quando ele ocorre; evitemos afastá-lo por erro nosso, mas não façamos projetos para acorrentá-lo, pois tais projetos são puras tolices"

(idem, Nona caminhada)

A Vida de Jean-Jacques Rousseau

28 de Junho de 1712 - Nasce Jean-Jacques Rousseau, em Genebra (Suíça), filho e neto de protestantes. Sua mãe falece no parto.

1728 - Rousseau foge de Genebra e vai para Turim. É acolhido pela Sra. Warens, convertendo-se à sua religião - o catolicismo.

1740 - Jean-Jacques passa a ser preceptor. No entanto, é fracassado neste ofício.

1742 - Rousseau muda-se para Paris.

1745 - Rousseau une-se a Thérèse Levasseur, com quem tem cinco filhos - todos, abandonados na "roda dos enjeitados".

1749 - Rousseau escreve o "Discurso sobre as Ciências e as Artes"

1752 - A "Enciclopédia", redigida por Diderot, e da qual Rousseau participava, é condenada pela Inquisição.

1754 - Rousseau retorna a Genebra. Volta a ser protestante.

1755 - Jean-Jacques publica o "Discurso sobre a origem da desigualdade" e o "Discurso sobre a economia política".

1756 - Rousseau escreve "Júlia ou a Nova Heloísa".

1757 - Escreve "Emílio ou da Educação" e "Do Contrato Social". Começa a ter os primeiros sintomas de sua mania de perseguição.

1762 - "Emílio" e "Do Contrato Social" são condenados à fogueira. Rousseau é perseguido e foge para Neuchâtel.

1764 - Rousseau redige as "Confissões" e o "Projeto de Constituição para a Córsega".

1765 - Foge para a Inglaterra e fica junto ao amigo, o filósofo David Hume. Porém, começa a desconfiar deste.

1767 - Rousseau retorna à França, onde se casa com sua companheira - Thérèse Levasseur - e publica o "Dicionário de Música".

1771 - Redige as "Considerações sobre o Governo da Polônia" e "Diálogos - Rousseau, Juiz de Jean-Jacques". A mania de perseguição já estava bem avançada.

1776 - Escreve os "Devaneios de um Caminhante Solitário".

2 de Julho de 1778 - Falece Jean-Jacques Rousseau, aos 66 anos de idade. Seus ossos são depositados no Panteão, durante a Revolução Francesa.

Obras de Jean-Jacques Rousseau

O adivinho da aldeia (1752)


A alameda de Sílvia (1746-1747)


Artigos sobre música [Enciclopédia] (1749)


Carta a M. Bordes (1752)


Carta a Christophe de Beaumont (1763)


Carta a D'Alembert sobre os Espetáculos (1758)


Carta ao Sr. Grimm (1751)


Carta a Malesherbes (1779-1789 [publicação póstuma])


Carta a Parisot (1742)


Carta sobre a música francesa (1752-1753)


Cartas escritas da montanha (1764)


Cartas elementares sobre a Botânica (1772 [escrito] ; 1779-1789 [publicação póstuma])


Cartas sobre a Providência (1756)


Confissões (1776-1769 [escrito] ; 1779-1789 [publicação póstuma])


Considerações sobre o Governo da Polônia (1771)


Cronologia universal ou História dos tempos desde a criação até o presente (c. 1731)


A descoberta do novo mundo (1742)


Devaneios de um Caminhante Solitário (1776 [escrito] ; 1779-1789 [publicação póstuma])


Diálogos - Rousseau, Juiz de Jean-Jacques (1772 [escrito] ; 1779-1789 [publicação póstuma])


Dicionário de Música (1767)


Dicionário de termos usuais em Botânica [incompleto] (1774 [escrito] ; 1779-1789 [publicação póstuma])


Discurso sobre as Ciências e as Artes (1750)


Discurso sobre a Economia Política (1755)


Discurso sobre a origem e os fundamentos da Desigualdade entre os Homens (1753 [escrito] ; 1755 [publicado])


Dissertação sobre a música moderna (1743)


Do Contrato Social (1762)


Emílio ou Da Educação (1762)


Émile e Sophie ou Os Solitários


O engajamento temerário (1747)


Ensaio sobre a origem das línguas


Ensaio sobre os acontecimentos importantes dos quais as mulheres foram a causa (c. 1731)


História do Valais


Projeto de paz perpétua (1756)


Júlia ou a Nova Heloísa (1758)


O levita de Efraim (1762)


Lucrécia


As musas galantes (1745)


Narciso ou o Amor de si mesmo (1752)


Polisinodia (1756)


Projeto de Constituição para a Córsega (1763)


Projeto para educação de M. de Sainte-Marie (1740)

Artigos sobre Jean-Jacques Rousseau disponíveis para download

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